Até as pedras precisam de raízes


















Até as pedras precisam de raízes
Ópera na prisão | Maio de 2025 | Produção SAMP
Fotos: Joaquim Dâmaso

Para onde vai o tempo?







(1 de Junho de 2025)
Fotos: Ana Gilbert

Dicionário improvisado


Na edição em papel do Jornal de Leiria ou aqui.

Ópera na prisão

Até as pedras precisam de raízes

Reportagem RTP

Cruza as pernas como uma rainha


Nem Marias Nem Manéis - Produção # 1
Um excerto.
Vídeo: Andreia Mateus.

A casa que temos dentro







Nem Marias Nem Manéis - Produção # 2
Fotografia de cena: Cristina Vicente

Para onde vai o tempo?

Nem Marias Nem Manéis



Fotos:
Joaquim Dâmaso / Região de Leiria 
Ricardo Graça / Jornal de Leiria

Cruza as pernas como uma rainha




Fotografia de cena: Cristina Vicente

Palavras #271 a #275


Na edição em papel do Jornal de Leiria ou aqui.

Nem Marias Nem Manéis


Foto: Cristina Vicente

Mundos traduzidos



Tradução de Manuel Moya

O corpo diz o que as palavras não conseguem

Finalmente, beijámo-nos.
Há muito que havia trocas de olhares e de sorrisos, toques cúmplices e abraços demorados, conversas que apenas não duravam indefinidamente porque eram sempre interrompidas por alguém. Há muito que havia vontade. Há muito que o primeiro beijo era imaginado e antecipado, desejado, fantasiado. Mas apenas hoje aconteceu.
E foi uma decepção. Quando nos separávamos, ainda sentia o sabor da sua saliva na minha boca; mas o que pensava era isto: será possível anular um beijo? Como voltar atrás, como retirar um beijo que demos a alguém?
Não sei o que esperava; mas julgo que sempre acreditei que o primeiro beijo que dou a alguém deverá ser mágico, deverá ser insuportavelmente intenso e transcendental; deverá fazer-me tremer, fazer-me voar, deverá fazer-me morrer e ressuscitar em simultâneo. Talvez seja excessivamente romântica, talvez seja excessivamente idiota; mas desejo que um primeiro beijo seja tão forte que me faça sentir que, após esse beijo, nada mais será igual, algo mudará de forma subliminar mas inquestionável e irreversível. Contudo, nada disso aconteceu; o nosso primeiro beijo foi, simplesmente, murcho. Tão murcho que desejei apagá-lo, eliminá-lo. Para que depois pudesse haver uma segunda tentativa de primeiro beijo? Ou para que o pudesse esquecer para sempre? Não importava, queria apenas retirar algo que dera.
O que me decepcionou mais foi a sua apatia; um beijo sem paixão, sem amor, sem desejo, sem voracidade, sem desespero, sem fome; apenas algo rotineiro e eficiente, algo necessário, algo agradável. Na verdade, apenas mais um beijo (pior: apenas mais um toque). Foi isso que me decepcionou: perceber que, para ele, um beijo, cada beijo, não é algo único e irrepetível, mágico, sagrado. Perceber que, para ele, um beijo pode ser apenas uma rotina. Perceber que, para ele, o primeiro beijo pode ser tão indiferente e banal, tão mecanizado, como os beijos de um casal que vive junto há cinquenta anos e não se ama há quarenta. Porque foi algo semelhante a isso que senti: o seu beijo pareceu-me o de um velho que já deixara de acreditar, desejar, sentir.
E o que fazer depois de um beijo assim? O passado não se apaga, é impossível anulá-lo ou cancelá-lo. Contudo, o pior é a incapacidade de apagar a memória; afinal, o passado talvez seja inofensivo e inócuo, o que nos perturba e destabiliza é a memória. Mas como impedir que o passado, ou a memória desse passado, nos condicione o presente, nos faça infelizes agora?
Recordava a forma mole como a sua língua acariciara a minha e perguntava-me se, apesar da completa inaptidão do seu beijo, aquele poderia ser o homem da minha vida. E se estivesse a permitir que um mau beijo condicionasse todo o meu futuro? Afinal, até ao momento em que os nossos lábios se tocaram acreditara (ou melhor, fantasiara) que aquele homem poderia ser o meu futuro. E se o beijo tivesse sido apenas um erro momentâneo, um equívoco passageiro? Já se sabe que, por vezes, o corpo diz aquilo que as palavras são incapazes de transmitir; deveria, por isso, escutar o que o seu corpo me dissera. As suas palavras tinham-me comunicado desejo e amor (sim, amor), enquanto o seu corpo transmitira rotina e apatia (na verdade, o seu corpo gritara-me: “foge”). Mas será que os corpos não se enganam, por vezes? Será que apenas as palavras são ilusórias e ardilosas? E os corpos, não?
Porque deveremos sempre acreditar nos corpos? Será que eles nunca mentem?

***

O beijo aconteceu ontem ao fim do dia, no escritório. Durante a noite, pela primeira vez em muito tempo, não trocámos mensagens. Dormi mal, acordei mal. Apeteceu-me fugir (o que é um desejo estúpido, já que a decepção e a dúvida me perseguiriam, pois estão dentro de mim, são parte de mim); mas, neste momento, aguardo que a porta do elevador abra; entrarei no escritório e ele estará lá, à minha espera. Não sei o que acontecerá; o que dirão os corpos? E as palavras que acabarão por ser ditas que significado verdadeiro terão? Não sei mesmo o que acontecerá, apenas que no princípio haverá um olhar.
E tenho medo.

(2014)

XXIII


Poema e voz: Paulo Kellerman
Ambiente sonoro: Paulo Vicente Poros
Fotografia e vídeo: Ana Gilbert

Cruza as pernas como uma rainha


Parece que o presente é uma sala fechada e o passado outra sala fechada e o futuro outra sala fechada. Três salas independentes e separadas entre si. Herméticas. O que podemos fazer para que estas salas comuniquem? Como é que abrimos janelas nestas paredes estanques, para que se possa circular livremente entre as salas e não ficar preso em nenhuma delas?
É isso que estou a fazer: abrir uma porta, atravessar salas. Chegar até ti.

Reservas: nemmariasnemmaneis@gmail.com